A dor é parte intrínseca do tecido da vida. Sem dor, não há vida. Passamos pelos mais diversos desafios e experiências que rasgam mesmo o peito. Como não sentir dor diante de uma perda ou um rompimento de uma relação significativa, por exemplo?
Estranho mesmo seria viver em um contexto difícil e não sentir nada.
Como sociedade, acostumamo-nos com a ideia ou até mesmo fantasia da completa ausência de dor. Parece sedutor não sentir nada, mas faz um exercício comigo: se eu tivesse uma pílula que tirasse toda sua dor, mas junto dela tivesse que ir tudo que mais importa pra você, você aceitaria tomar? Você aceitaria viver uma vida sem significado em nome de não sentir nada?
Veja bem, não estou dizendo que devemos viver uma vida árdua nem mesmo nos confortar com uma imensidão de sofrimento. Existe uma grande diferença entre sentir dor e nos tornarmos nossa dor.
Quando nos tornamos nossa dor, a vida perde o sentido e fica rodeada apenas por essa dor. Quando sentimos nossa dor, damos a chance e abrimos espaço pra que ela exista em uma parte, mas não no todo da nossa vida.
“Na busca por eliminar a dor a todo e qualquer custo, acabamos por eliminar a vida, e não a dor”
Marcela Bohn.
Um paradoxo curioso da existência humana é que quanto mais tentamos fugir do sofrimento, mais sofremos. Quanto mais tentamos controlar aquelas emoções desagradáveis, como a tristeza, a vergonha, a culpa, a raiva, mais intensas essas emoções ficam e mais difícil de lidar pode ser.
E é com muita dor que cito uma frase que uma pessoa que foi muito significativa pra mim me disse:
Sinta o que tiver que sentir.
Em certa medida, desaprendemos a sentir. Sentir se tornou uma das nossas maiores experiências desafiadoras e até mesmo um pesadelo pra muitas de nós. Mas é somente abrindo espaço pra experiência do sentir que é possível lidar com a dor. Não existem atalhos. Qualquer tentativa de suprimir o sofrimento somente servirá para aumentá-lo.
Gosto de lembrar e pensar que a dor é um lado de uma moeda composta por dor vs. valor. De um lado, tem algo que dói muito. Do outro, algo que importa muito. Posso ter medo de perder aqueles que amo porque os valorizo muito. Posso ter medo de ser uma profissional ruim, porque valorizo a excelência e o cuidado.
Fato é, não há como eliminar o sofrimento eliminando a dor. (Strosahl, Hayes & Wilson, 2021)
Se tá doendo, é porque estamos todas vivas e importa muito.
Que texto maravilhoso!!!