#02 do que é feito o amor?
reflexões acerca do amor a partir da ética amorosa de bell hooks
o amor pra mim, assim como pra muitos de nós, sempre me pareceu um conceito muito abstrato, difícil de acessar. “o que é o amor?” é uma pergunta frequentemente difícil de responder, ou respondida de diversas maneiras. o amor pode ser até mesmo confuso e incoerente.
aprendemos sobre o amor desde cedo, na nossa família de origem, onde nos ensinam o que deve e o que não deve ser chamado de amor. “a família é a escola do amor” (hooks, 2021), a qual funciona como uma verdadeira pedagogia do amor. no entanto, esse amor frequentemente nos escapa, e passamos uma vida inteira tentando entender o que realmente é o amor.
além de tudo, aprendemos a associar o amor com dor e sofrimento. aprendemos que amar é sinônimo de abuso e negligência. “não existe amor sem justiça […] onde há abuso a prática amorosa fracassou” (hooks, 2021)
bell hooks (2021) define o amor em Tudo sobre o amor: novas perspectivas como uma prática, uma ação, um compromisso, e não apenas um sentimento. Logo, se eu amo alguém, algumas atitudes não cabem na mesma frase que esse amor, como o abuso e a negligência.
aqui, pode ser muito difícil perceber que nem sempre fomos tão amados assim, sobretudo em nossa família de origem. às vezes, convivemos com o desamor e o desafeto e aprendemos a associar isso enganosamente ao amor.
como consequência, buscamos pelo que parece ser mais familiar. e vivemos relações cercadas novamente pelo desamor e pelo desafeto, chamando isso de amor.
para nos comprometermos com o amor, devemos antes assumir, assim como afirma bell hooks, o quão pouco sabemos sobre ele na prática. devemos ousar assumir que o amor não pode coexistir com o descaso e escolher o amor todos os dias como um acordo pessoal e coletivo.
algumas pessoas dizem que relacionamentos não sobrevivem de amor, e isso demonstra exatamente o quão pouco conhecem sobre o amor. o amor é definido por bell hooks (2021) como o ato de se empenhar pelo bem-estar do outro. a característica central e básica de uma relação deve ser o amor, pois sem o amor essa relação estará fadada ao fracasso.
“Quando entendemos o amor como a vontade de nutrir o nosso crescimento espiritual e o de outra pessoa, fica claro que não podemos dizer que amamos se somos nocivos ou abusivos. Amor e abuso não podem coexistir. (…) A grande maioria de nós vem de famílias disfuncionais nas quais fomos ensinados que não éramos bons, nas quais fomos constrangidos, abusados verbal e/ou fisicamente e negligenciados emocionalmente, mesmo quando nos ensinavam a acreditar que éramos amados. Para a maioria das pessoas, é simplesmente ameaçador demais acetar uma definição de amor que não nos permitiria mais identificar o amor em nossas famílias.” (p. 48)
(hooks, 2021)